Bárbara Não Lhe Adora
A peça conta a história de um grupo de teatro mambembe de vanguarda que, após receber uma resenha negativa, resolve sequestrar a crítica. O diretor ensaia cada passo
do sequestro como um grande espetáculo. No cativeiro o grupo faz uma segunda apresentação para a crítica, explicando os detalhes da encenação. O preço do resgate
é a publicação de uma nova crítica, desta vez, positiva.
Desde o início o espetáculo foi um sucesso. É uma história universal. Todo o mundo sabe que artistas e críticos têm uma relação conturbada. Durante muitos anos
viajamos, participamos dos principais festivais de teatro do país e fizemos várias temporadas divertindo o público de todo o Brasil.
A Barbara de verdade esteve na nossa estreia e encarou a homenagem com bom humor. Acreditem, Barbara era bem humorada. Escreveu uma ótima crítica e nunca
criou empecilhos para a carreira do espetáculo. Sinto falta dessa mulher que, do seu modo, dedicou uma vida ao teatro. Quem nunca foi detonado pela Barbara que atire o
primeiro jornal! Eu tive essa honra. Como não amar frases como Como não amar frases como 'Fulano ultrapassou os limites do ridículo e do patético'? Obrigado Barbara!
‘Epheitos Kolaterais
A peça, o depoimento de quatro pessoas comuns que viram suas vidas radicalmente modificadas por forças arbitrárias e misteriosas, investiga algumas possibilidades
apontadas a partir da obra “Metamorfose”, de Franz Kafka.
Há uma evidente contiguidade entre todas as figuras e formas de tudo o que existe, algo ao mesmo tempo sui generis e familiar para todos nós. Seja pela necessidade de sobrevivência, pela influência de tudo que ocorre ao redor, pelos caminhos do consciente e do inconsciente ou pela ingestão de substâncias alucinógenas - voluntaria
ou involuntariamente -, nós, seres humanos, podemos nos transformar em qualquer coisa.
Estamos no século XXI e a recorrente sensação de inadequação do ser humano perante o mundo ganhou novos contornos: o caos urbano das megacidades, o bombardeio tecnológico, a fúria da natureza, a revolução química e o furacão midiático onipresente, trazem novas questões para o homem moderno, um ser cada vez mais perdido e perplexo perante sua evidente fragilidade e impotência, um indivíduo propenso a sofrer novas metamorfoses. Com uma dramaturgia marcada pela crítica, humor ácido e pela mistura do real e do imaginário, a peça conta a história de quatro personagens (O Sofá, O Cão, A Estátua e o Náufrago) usando uma narrativa vertiginosa, onde cada imagem sobrepõe-se a
outra, adquirindo evidência e dissolvendo-se rapidamente diante dos olhos do leitor numa atmosfera de sonho e pesadelo. A proposta é quebrar os limites da lógica e da
sensatez para que o espectador possa (quem sabe?) se distanciar e refletir sobre a condição humana, o seu cotidiano e o seu tempo.
Henrique Tavares