"Em um sombrio entardecer de agosto, enquanto o Brasil navegava no carro alegórico da Rio 2016, Mitzi Abi-Haila, uma jovem farmacêutica retornava de seu trabalho. Não era olímpica; não concorria a medalhas de ouro; não participava das festas. Tentava, assim como a grande maioria dos cariocas, ter um trabalho digno e uma remuneração decente. Mas não seria sempre assim. No meio do espalhato policial e militar da olimpíada brasileira, praticamente ao lado de uma blitz, Mitzi viu o vulto se esgueirando pelo retrovisor esquerdo de seu carro. E antes que compreendesse a grandiosidade de seu próprio cenário, Mitzi viu o Raio - não o esplendor do recorde e do aplauso das multidões - somente o clarão seco, sem som, ao lado de sua face. Também não viu as bandeiras verde-amareladas, panejando embriagadas do ufanismo nacional. Ao abrir os olhos viu uma flanela oferecida por um bom taxista que lhe dizia para enxugar o sangue, pois fôra baleada na cabeça. Os policiais da blitz não a socorreram. O projetil permanece eterno entre os ossos de sua face e de seu crânio.