Sol em noite fria é um presente. A poesia em seu sentido puro é sempre um presente e não tem espaço para contestação nessa frase. Eu não escrevi esse livro para o mundo, tampouco imaginei que o derramaria em outros corações, antes de tudo ele é Kawana em seu sentido mais puro, de entranhas rasgadas e a vida exposta, em um processo de vida e morte. Não falo de alegria, pois ela por si só se basta, aprendi na terapia, mas eu falo dos meus vazios e de minhas dores, de uma história que não foi gentil, de um corpo forte, com raízes profundas e que me atrevo a conhecer e apresentar.
Com a poesia rasgo meu corpo, vulnerabilizo a carne e deixo doer para que eu seja a carta que me conta que estou viva. Que sou um corpo corajoso em um trabalho diário de cura, dispendendo energia e trabalhando incansavelmente pela vida, ainda que a roseira não floresça e que não brotem frutos e cores, a vida é uma criança destemida que não deixa de correr, com seus olhos curiosos e sua total incapacidade de desistir.